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Lean, Green e Economia Circular – o efeito da combinação por uma indústria mais competitiva e sustentável

02 fevereiro 2023

Artigo de Isabel Fontes, consultora na área de Economia Circular no INEGI, e de José Carlos Sá, investigador colaborador do LAETA e Docente no ISEP.


Com a progressiva exigência da sociedade e dos consumidores, as organizações aspiram alcançar um padrão de excelência a todos os níveis, desde excelência operacional à excelência competitiva, num esforço que se reflete em eficiência, qualidade e principalmente na satisfação do cliente.

Por esta razão, o interesse na adoção dos princípios da filosofia lean tem sido crescente nos últimos anos, tendo em vista uma melhoria contínua dos processos através de um conjunto de ferramentas e técnicas que se suportam sinergicamente. Afinal, o pensamento lean tem como objetivo final um sistema de gestão simplificado e de alta qualidade, orientado para a produção de acordo com o ritmo da procura dos clientes, promovendo a remoção daquilo que não agrega valor para o produto e/ou serviço, designado de desperdícios.

Desta forma, a filosofia lean é hoje muito comum em qualquer tipo de organização, a aplicação das suas técnicas, quando implementadas, revelam melhorias de alta eficiência que por sua vez encaminham para uma redução dos custos, aumento da qualidade dos produtos e uma entrega mais rápida dos seus produtos e serviços.

É certo que a filosofia lean é considerada uma referência influente na produção, que oferece soluções para melhorar o desempenho operacional e criar uma cultura de melhoria contínua na organização, com o aumento da competitividade empresarial. Porém, as preocupações ambientais e a necessidade de produtos e serviços mais sustentáveis impulsiona as indústrias a adotar novas estratégias de produção.

No decorrer do nosso trabalho de consultoria e projetos de melhoria para as empresas cada vez mais vemos estas metodologias como complementares. Afinal, como falar de melhoria da produtividade sem falar da redução de desperdícios? E como abordar a redução de desperdícios sem a circularidade de recursos?

A sustentabilidade já é fator de competitividade

É assim que surge o termo green manufacturing, criado para refletir um novo sistema de produção capaz de minimizar o desperdício e a poluição causada pelos processos produtivos. O green manufacturing é visto como um novo paradigma que agrega estratégias e técnicas sustentáveis, para a prevenção do impacto no ambiente, aplicadas a processos, produtos e serviços. Todos os processos devem ser repensados e renovados, a começar pelo design de produtos e sistemas com baixo consumo de energia e materiais, para que se reduzam impactos negativos para o meio ambiente, para a sociedade e para a ecoeficiência.

Para tal também serão impreteríveis a aquisição e o uso de materiais ecologicamente corretos, o consumo de menos recursos naturais, a diminuição da criação de desperdícios e a promoção da reciclagem. Incentivar e privilegiar a produção e utilização de energia através de fontes renováveis é outra das práticas a incluir para que se consiga reduzir o número de emissões libertadas.

Por conseguinte, a utilização do conceito «Lean and Green Manufacturing» evidencia-se em setores empresariais diferentes com o propósito de diminuir os desperdícios dos processos operacionais, aumentando a produtividade e minimizando os impactos ambientais.

Onde se cruzam o Lean e o Green?

Enquanto a estratégia da filosofia lean ambiciona a redução dos custos operacionais através da redução dos desperdícios no sistema de produção, o green manufacturing ambiciona preservar o meio ambiente, reduzir as emissões e utilizar (menos) recursos naturais. As práticas lean não são por si só sustentáveis, porque o seu principal objetivo é maximizar o valor do cliente e não é certo que o cliente tenha em conta as questões ambientais.

A metodologia «Lean and Green Manufacturing», no entanto, fornece ferramentas fundamentadas em técnicas que permitem reduzir desperdícios, direcionando as empresas para a avaliação da produtividade e do impacto ambiental dos seus processos. Tendo em conta os objetivos comuns do pensamento lean e a sustentabilidade, a sua combinação parece natural para se complementarem e beneficiarem da sua associação.

Associação da filosofia Lean e a Economia Circular

A economia circular, por sua vez, é um conceito que se baseia numa estratégia de desenvolvimento sustentável, onde se pretende manter o crescimento económico, o bem-estar humano e simultaneamente diminuir os impactos ambientais negativos. É um sistema regenerativo em loop fechado que pretende otimizar a utilidade dos recursos, conservando-os, minimizar as quantidades de uso e maximizar a sua recuperação, eficiência e eficácia durante a sua vida útil. Desta forma, consegue-se desacelerar, encerrar e diminuir circuitos de materiais e energia.

Esta abordagem promove a inovação da cadeia de valor, projetando o ecodesign nos produtos para que estes sejam mais fáceis de manter, reparar, atualizar, desmantelar ou reciclar, criando simbioses industriais e apoiando o consumidor no incentivo da separação para que se possam minimizar os custos e problemas de reutilização e reciclagem.

Na perspetiva da filosofia lean a otimização de processos restringe-se a uma cadeia de fornecimento específica, enquanto que para a economia circular esta cadeia é alargada a uma perspetiva muito maior, onde a identificação e o fluxo de valor não se limitam a um ciclo de vida ou à cadeia de abastecimento do produto, mas continua a evoluir rumo à preservação e melhoria do capital natural e otimização do rendimento dos recursos. Mas o verdadeiro sucesso está nesta combinação, de modo a otimizar recursos, produzindo apenas o necessário, originando um fluxo circular, e trabalhando continuamente rumo à plena eficiência através da melhoria contínua.


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