Acidentes industriais: o papel das perícias científicas para a prevenção
22 julho 2020Artigo de Francisco Castro, investigador em dinâmica de acidentes no INEGI.
O colapso de uma grua, o vazamento de substâncias perigosas ou a rutura de parte de uma máquina. Os acidentes sempre fizeram e sempre farão parte das atividades humanas, quer particulares, quer profissionais como são as industriais. As pessoas cometem erros e os equipamentos falham, é certo, mas os acidentes não devem ser encarados como eventos aleatórios, impossíveis de evitar, mas sim o resultado da convergência de diversas causas que os desencadeiam.
Imprevistos e indesejados, os acidentes são eventos complexos com múltiplas causas, diretas e indiretas, razão pela qual a sua investigação requer uma abordagem estruturada e metódica para a recolha e análise de informação relevante.
A investigação de acidentes e perícias científicas determinam não apenas o que aconteceu, mas também como e porquê, e as conclusões da investigação poderão formar a base do plano de ação para impedir que o incidente ocorra novamente e para definir ações corretivas.
Entender um acidente hoje, é prevenir outro amanhã
A reconstituição ou simulação computacional do acidente, a análise dinâmica multicorpo, e perícias a equipamentos e máquinas industriais são algumas das ferramentas disponíveis para investigar as causas de acidentes, tenham eles ocorrido com estruturas, máquinas industriais, veículos ou até acidentes de trabalho.
Mais recentemente, a equipa de consultores do INEGI tem vindo apostar na investigação topográfica e de realidade virtual/aumentada, através da utilização de drones e scanners laser e equipamentos multimédia, e dinâmica, recorrendo a animação por software apropriado, de modo a recriar com maior fidelidade e ajudar a entender o nexo de casualidade das ocorrências.
A utilização de ferramentas digitais para caracterizar os cenários de acidentes poderá em breve permitir revisitar o local do acidente através das técnicas imersivas de realidade virtual. Esta é também uma das apostas do Centro Pericial de Acidentes (CENPERCA) do INEGI.
A experiência adquirida no CENPERCA, que até à data realizou mais de 290 perícias, envolvendo investigadores das Forças de Segurança (PSP e GNR) e unidades orgânicas da Universidade do Porto, permite-nos afirmar que a informação recolhida nas investigações periciais é de grande importância científica e essencial para a prevenção de novos acidentes.
A partir dos relatórios resultantes, torna-se possível redefinir procedimentos de segurança, implementar novos programas de manutenção preditiva de equipamentos, redesenhar formações para colaboradores, entre outras ações.
A investigação de acidentes é uma ação reativa – como é óbvio, seria preferível evitar que o acidente ocorresse de todo - mas tem os seus benefícios. Essencialmente, ao reagir a um acidente, investigando a sua anatomia, estamos a prevenir outro. Razão pela qual as empresas devem encarar este evento também como uma oportunidade.
O advento da indústria 4.0 e a condução autónoma de veículos representa também o advento de novos riscos, o que seguramente colocará ao CENPERCA novos e aliciantes desafios, para os quais já nos estamos a preparar.