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A aceleração (forçada) da transformação digital nas empresas: uma aposta estratégica no futuro

05 maio 2020

Artigo de Joana Moreira, consultora júnior de Gestão e Engenharia Industrial no INEGI.


Para muitas empresas portuguesas, os últimos meses foram marcados pela instabilidade, incerteza e quebra de receitas. Segundo um inquérito levado a cabo pela CIP - Confederação Empresarial de Portugal às suas empresas associadas1, a redução da procura foi o principal impacto negativo apontado pelas empresas, sendo considerado muito forte na maioria dos setores. Também a AEP - Associação Empresarial de Portugal apontou as dificuldades de abastecimento de matérias-primas e redução de encomendas2 como os principais obstáculos sentidos.

Mas, muitas vezes, da adversidade surge a oportunidade, e foram muitas as empresas que procuraram reduzir o impacto na sustentabilidade dos seus negócios entrando ou reforçando a sua presença no mundo do online.

Se olharmos para os dados disponibilizados pela SIBS Analytics3, por exemplo, no início do mês de abril verificou-se um aumento significativo das compras online efetuadas em Portugal. Destaca-se o crescimento no setor de Entretenimento e Cultura, que registou um aumento de 64%, no Comércio Alimentar & Retalho com um aumento de 45%, e na Restauração, Food Delivery e Take Away com 52%.

Para muitas empresas o mercado online tornou-se uma mais-valia, contribuindo para colmatar a quebra de receitas sentida na vertente tradicional. Porém, o que nasceu fruto de uma ação impulsiva e reativa deve agora torna-se numa aposta estratégica que privilegie um potencial ganho a médio e longo prazo.

Isto significa repensar modelos de negócio e processos, para assim se adaptarem as operações a uma realidade cada vez mais digital. Existem, certamente, empresas cuja operação não poderá ser adaptada na sua totalidade à realidade do online. Ainda assim, a nossa experiência em projetos de consultoria permite-nos a afirmar que a flexibilização dos processos, resulta em vários benefícios à operação.

A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL COMO SUPORTE A MODELOS DE NEGÓCIO ONLINE MAIS FLEXÍVEIS

A transformação digital é o processo de integrar tecnologia digital e ajustá-la à realidade da empresa, exigindo mudanças ao nível da tecnologia, cultura, operações e entrega de valor. A longo prazo é uma aposta de sucesso porque permite dotar as empresas de ferramentas flexíveis o suficiente para melhor suportarem momentos de instabilidade e mudança.

Neste contexto, torna-se fundamental perceber quais os aspetos mais importantes a considerar durante o processo da transformação digital. A realidade de cada empresa é única, porém, existem 3 áreas transversais e fundamentais.

1. Recursos Humanos

Os recursos humanos devem ser vistos como agentes de transformação. Ou seja, é necessário que as equipas sejam capazes de entender as vantagens da digitalização e que sejam parte integrante da solução.

Para uma eficiente adaptação, torna-se importante dotar a força de trabalho de competências ajustadas à nova realidade do mercado. A formação ao nível da interação com a tecnologia e o teletrabalho para todas as funções que o permitam são táticas com benefícios, e não só quando se torna impreterível.

2. Operações

Muitas empresas depararam-se recentemente com o facto de as suas operações estarem montadas de forma demasiado rígida para a realidade atual.

Pensemos, por exemplo, na escassez de matérias-primas que comprometem a atividade das empresas. Contrariar o problema exige uma gestão eficaz, nomeadamente através da aplicação de novas estratégias de sourcing e da implementação de novas abordagens que permitam uma melhor gestão da cadeia de abastecimento. Outros fatores externos à empresa, como o cancelamento de voos ou restrições em sistemas de entrega e distribuição, têm um enorme impacto nas operações logísticas e podem afetar o serviço prestado ao cliente. Razão pela qual é importante garantir eficiência em todos os pontos da cadeia de abastecimento que são passíveis de incrementar o serviço ao cliente.

Estes, e outros problemas, beneficiam da utilização de sistemas e tecnologias de informação de modo a ser possível analisar dados em tempo real que permitam definir estratégias de adaptação e comunicar antecipadamente com os diferentes stakeholders.

3. Clientes

A diminuição da procura nos canais offline leva à necessidade de apresentar alternativas online aos consumidores, para que estes possam receber comodamente os seus produtos e evitar deslocações.

Por conseguinte, os canais de vendas devem também ser revistos para que se possam adaptar às diferentes realidades. Para clientes jovens e com alta literacia digital, o online é uma solução simples e fácil. No entanto, no caso de clientes de uma faixa etária superior e menos habituados às tecnologias, sentirão dificuldades, pelo que alternativas como encomendas via telefone e entregas em casa, por exemplo, podem ser estratégias relevantes.


A tomada de decisões em situação de crise depende, acima de tudo, da informação que o gestor tem disponível. Razão pela qual a implementação de sistemas de informação e a digitalização de processos é imprescindível para nos prepararmos para mudanças bruscas, como as que vivemos hoje, e podemos voltar a viver num futuro próximo.

A aposta no e-commerce foi uma aposta acertada, e continuará a sê-lo, quer em tempos de «guerra» quer em tempos de «paz», para a sustentabilidade das empresas a longo prazo. E se a atual crise serviu de motor, agora há que reconhecer a importância de ter uma visão clara de futuro e da necessidade de nos reinventarmos a fundo e com estratégia.
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