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Máscaras faciais: como ajudamos a prevenir inalação de COVs e a sensibilização da pele

28 setembro 2023
Artigo de Teresa Mata, investigadora na área do ambiente e sustentabilidade, e Gabriela Ventura, investigadora na área da qualidade do ar.



As máscaras são extremamente importantes no contexto hospitalar para os profissionais de saúde, pois ajudam a prevenir a propagação de doenças infeciosas entre pacientes e profissionais de saúde. Médicos, enfermeiros e técnicos de laboratório, estão frequentemente expostos a agentes infeciosos e contagiosos, e as máscaras podem ajudar a evitar a transmissão desses agentes. Também a população em geral usou de forma massiva máscaras faciais, uma das principais medidas preventivas reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde e implementadas para mitigar o impacto epidémico da COVID-19. 

Sendo a máscara um acessório que pode ser utilizado várias horas por dia, por onde passa o ar que respiramos e que está em contacto com a pele do rosto, não deve causar desconforto ao utilizador e não deve conter compostos químicos tóxicos, irritantes ou sensibilizantes. No entanto, poucos estudos foram realizados para caracterizar a existência de compostos orgânicos voláteis (COVs) nos materiais das máscaras faciais disponíveis no mercado.

Esta informação é importante tanto para os fabricantes - que podem melhorar a qualidade e segurança de seus produtos e cumprir as regulamentações - quanto para os utilizadores - que podem reduzir sua exposição e evitar possíveis efeitos adversos na saúde. Por isso, o Laboratório da Qualidade do Ar Interior  do INEGI, laboratório com elevada experiência na área da caracterização detalhada de COVs, tem competências para analisar a emissão de compostos nocivos nos materiais de fabrico das máscaras faciais, e avaliar a exposição do utilizador à sua inalação, assim como determinar a presença de COVs específicos que causam sensibilização da pele por contato dérmico.

Estudos mostram que há espaço para melhorar a segurança dos materiais

Existem alguns estudos sobre o tema. Silva et al. [1] analisaram a presença de COVs em três tipos de máscara, cirúrgicas, FFP2 e reutilizáveis. Todas elas apresentavam marcação CE e eram certificadas para a eficiência de filtragem e respirabilidade. Neste estudo foram usados dois métodos experimentais diferentes para amostragem dos COVs, adaptados de métodos já existentes, um para simular a exposição por inalação e o outro para simular a exposição dérmica. Foram definidos compostos alvo para cada avaliação: os COVs Totais para a exposição por inalação e os COVs sensibilizantes para a pele categoria 1 e subcategorias 1A e 1B para a exposição dérmica.

Os resultados mostraram que a dose calculada de COVs totais, resultante da exposição por inalação, é muito variada, com valores que se situam entre 0 e 2374 µg/dia. Relativamente à exposição cutânea, embora não sendo possível generalizar, as máscaras reutilizáveis analisadas apresentaram consistentemente valores mais elevados de compostos sensibilizantes da pele do que as máscaras descartáveis. Também, Jin et al. [2] identificaram e quantificaram os COVs, aromáticos policíclicos, e ésteres de ftalato em máscaras cirúrgicas, tendo detetado um amplo espectro desses compostos nas máscaras analisadas. 

Acresce ainda que alguns dos corantes sintéticos e aditivos plásticos, que têm na sua constituição COVs e que são usados no fabrico de máscaras faciais, são tóxicos e persistentes no meio ambiente, causando impactos negativos de curto a longo prazo na saúde humana, fauna e flora [3]–[7].

Apesar disso, o seu impacto na saúde humana nunca, ou raramente, é considerado ao escolher uma máscara facial, uma vez que o consumidor não tem essa informação disponível para poder optar, nem existem ainda normas ou regulamentos que imponham restrições à utilização de compostos químicos em máscaras faciais. O perigo mais comum devido à inalação de partículas de corante são os problemas respiratórios, cujos sintomas incluem prurido, olhos lacrimejantes, espirros, tosse, respiração ofegante e sintomas de asma [6]. Assim, além da capacidade de proteção contra vírus, é de grande importância que as máscaras faciais também sejam testadas quanto à emissão de substâncias nocivas, de modo a garantir que não causa impacto ao utilizador em termos de saúde respiratória e cutânea.

Torna-se também necessária a futura implementação de normas e regulamentos relativos aos compostos químicos presentes nos materiais das máscaras faciais. 



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Referências

[1]G. V. Silva, A. O. Martins, S. D. S. Martins, and T. M. Mata, "Low-VOC Emission Label Proposal for Facemask Safety Based on Respiratory and Skin Health Criteria,” 2023.
[2]L. Jin, S. M. Griffith, Z. Sun, J. Z. Yu, and W. Chan, "On the Flip Side of Mask Wearing: Increased Exposure to Volatile Organic Compounds and a Risk-Reducing Solution,” Environ. Sci. Technol., vol. 55, no. 20, pp. 14095–14104, 2021, doi: 10.1021/acs.est.1c04591.
[3]A. Lakhouit, "Effect of face mask inks and dyes on human health during the COVID-19 pandemic,” vol. August 11, pp. 1–3, 2020, doi: 10.22541/au.159715001.13368769.
[4]B. Lellis, C. Z. Fávaro-Polonio, J. A. Pamphile, and J. C. Polonio, "Effects of textile dyes on health and the environment and bioremediation potential of living organisms,” Biotechnol. Res. Innov., vol. 3, no. 2, pp. 275–290, 2019, doi: 10.1016/j.biori.2019.09.001.
[5]R. Sühring, M. Scheringer, T. F. M. Rodgers, L. M. Jantunen, and M. L. Diamond, "Evaluation of the OECD P OV and LRTP screening tool for estimating the long-range transport of organophosphate esters,” Environ. Sci. Process. Impacts, vol. 22, no. 1, pp. 207–216, 2020, doi: 10.1039/c9em00410f.
[6]M. Hassaan and A. El Nemr, "Health and Environmental Impacts of Dyes: Mini Review,” Am. J. Environ. Sci. Eng., vol. 1, no. 3, pp. 64–67, 2017, doi: 10.11648/j.ajese.20170103.11.
[7]Z. Du, J. Mo, and Y. Zhang, "Risk assessment of population inhalation exposure to volatile organic compounds and carbonyls in urban China,” Environ. Int., vol. 73, pp. 33–45, 2014, doi: 10.1016/j.envint.2014.06.014.

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