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Incenso: um «convidado» perigoso que afeta a qualidade do ar interior

14 abril 2022

Artigo de Gabriela Ventura e Anabela Martins, investigadoras na área da qualidade do ar.


Seja para aromatizar o ambiente ou ajudar ao relaxamento, o incenso é um produto ainda popular. Tem, porém, perigos «escondidos» e desconhecidos para a maior parte das pessoas, pois polui o ar à sua volta.

A exposição a poluentes do ar interior é reconhecida como causa do aumento de vários problemas de saúde observados, nomeadamente, ao nível respiratório. No ambiente interior – em casa, local de trabalho, ou meios de transporte - a concentração de alguns poluentes pode ser 10 vezes superior aos respetivos níveis no exterior. É, portanto, muito importante controlar as fontes de poluentes dentro dos espaços.

O INEGI, no âmbito da sua atividade de apoio ao desenvolvimento industrial de materiais «limpos», tem como prioridade o controlo das emissões de uma série de produtos, incluindo produtos de consumo, pelo que realizou um estudo das emissões de vários tipos de incenso disponíveis no mercado1.

O incenso, material aromático que liberta cheiro quando queimado, é utilizado em casa, mas é também frequentemente utilizado em centros de bem-estar e spa, ginásios ou centros de ioga. Nestes espaços a intensidade respiratória é mais elevada, a inalação mais frequente, e as consequências para a saúde podem, por isso, ser mais gravosas.

Incenso emite substâncias nocivas

Para descobrir se efetivamente há consequências para a saúde resultantes da inalação destes químicos, um conjunto de investigadoras do INEGI estudou a componente gasosa das emissões resultante da queima de incenso.

Foram selecionados 12 produtos, analisados através de um varrimento de COVs (compostos orgânicos voláteis). Esta análise resultou na identificação de compostos de diferentes famílias: hidrocarbonetos aromáticos, alcanos, alcenos, cetonas e aldeídos.

Já a procura por COVs específicos com efeitos crónicos graves para saúde (carcinogénicos, mutagénicos e reprotóxicos) resultou na deteção de benzeno, tolueno, estireno, naftaleno, furfural, furano, isopreno, fenol, 2-furilmetilcetona, formaldeído, acetaldeído e acroleína.

Assumindo um cenário de utilização de incenso de 1 hora por dia, 4 dias por semana, conclui-se que os produtos são de facto altamente poluentes e impactam a saúde. Foram observadas concentrações de benzeno - um elemento cancerígeno e tipicamente associado ao tabaco - entre 100 a 3600 vezes superiores aos valores recomendados pela Organização Mundial de Saúde2. O formaldeído, um agente irritante e também cancerígeno, também apresentou valores superiores aos recomendados, entre cerca de 1.2 a 2.7 vezes. Os outros compostos regulados apresentaram concentrações abaixo dos valores limite.

Há ainda substâncias que - apesar de não serem objeto de controlo e não terem valores recomendados tabelados - merecem atenção. O acetaldeído, a acroleína, o furfural e o furano surgiram como compostos com níveis de concentração relevante.

Investigadoras alertam consumidores

Algumas pessoas acreditam que o incenso emite fragrâncias agradáveis, que aliviam o stress e facilitam a obtenção do equilíbrio físico, mental e espiritual, mas, como os resultados obtidos comprovam, estas fragrâncias podem representar um risco para a saúde.

Para reduzir o risco, existem essencialmente duas estratégias: o controlo da fonte, onde a sua existência dentro de casa é removida, substituída ou moderada, e o controlo da exposição, essencialmente através de ventilação adequada.

A primeira estratégia é preferível porque a prevenção é melhor do que a mitigação. Outra forma de controlar a exposição é a restrição do tempo de permanência em determinado espaço contaminado e, como última solução, a diluição com o aumento da ventilação, que pode ser implementada pelo consumidor. Atenção especial deve ser dada às pessoas vulneráveis, como crianças e pessoas com problemas de saúde (asma, COPD, etc.), que não deverão permanecer em espaços onde ocorra a queima de incenso.

No caso de condições extremas, como altas temperaturas, altos níveis de ozono e altos níveis de material particulado, o uso de incenso deve ser evitado. Essas condições extremas podem potenciar níveis mais elevados de exposição, por exemplo, a poluentes secundários resultantes de reações químicas que não ocorreriam em situações normais.


Referências

[1] Silva, G.V.; Martins, A.O.; Martins, S.D.S. Indoor Air Quality: Assessment of Dangerous Substances in Incense Products. Int. J. Environ. Res. Public Health 2021, 18, 8086. https://doi.org/10.3390/ijerph18158086.

[2] World Health Organization. WHO Guidelines for Indoor Air Quality: Selected Pollutants; WHO Press, WHO Regional Office for Europe: Copenhagen, Denmark, 2010. Available online: https://www.euro.who.int/en/health-topics/environment-and-health/ air-quality/publications/2010/who-guidelines-for-indoor-air-quality-selected-pollutants.

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