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Gases Renováveis: Vetores chave no processo de descarbonização

08 junho 2022
Artigo de Ricardo Barbosa, coordenador da área de Energia no INEGI.
Publicado originalmente na revista País Positivo de Maio 2022.



No âmbito do Pacto Ecológico Europeu e com a Lei Europeia em matéria de Clima, a União Europeia (UE) estabeleceu para si própria a meta vinculativa de alcançar a neutralidade climática até 2050. Como etapa intermédia neste caminho, comprometeu-se a reduzir as emissões em pelo menos 55 %, no contexto do chamado pacote Fit for 55.

No contexto deste pacote, a atualização da Diretiva Energias Renováveis propõe aumentar a meta vinculativa geral das energias renováveis no mix energético da EU, dos atuais 32%, para 40%, e privilegiar a incorporação de gases renováveis, como o hidrogénio verde. Mais recentemente a Comissão Europeia propõe estabelecer o plano REPowerEU, que aumentará a resiliência do sistema energético à escala da UE, através da diversificação do aprovisionamento de gás, através do recurso a maiores volumes de produção e importação de biometano e hidrogénio, reduzindo assim mais rapidamente o recurso a combustíveis fósseis nos diversos usos finais. 

Portugal, está entre os países da união europeia já com compromissos assumidos, plasmados no Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 e o Plano Nacional Energia e Clima 2030, tendo no âmbito deste último sido elaborada a Estratégia Nacional para o hidrogénio que sublinha as vantagens da incorporação do hidrogénio no sistema energético nacional.

É, portanto, consensual que o hidrogénio será um vetor chave no processo de descarbonização, em parte também porque permite a integração dos sistemas de eletricidade e de gás natural (sector coupling). Isto acelera a descarbonização do sistema elétrico e da rede de gás natural, permitindo uma estratégia rumo à neutralidade carbónica mais eficiente do ponto de vista energético, económico e financeiro. As infraestruturas de gás natural (distribuição e transporte) serão por isso cruciais para garantir a resiliência e a flexibilidade do sistema energético nacional no processo de transição para a neutralidade carbónica, através do armazenamento e integração de gases renováveis. 

Também na descarbonização da indústria, o hidrogénio terá um papel fundamental. Ainda que a eletrificação dos diversos setores da economia seja um importante driver de descarbonização, nem todos os processos industriais podem ser eletrificados, existindo assim a necessidade de um transportador de energia neutro em carbono para descarbonizar completamente a produção industrial. Por exemplo, no caso de fornecimento de calor de processo a altas temperaturas (acima de 400 ºC) a eletrificação já não é uma opção, pelo que os únicos vetores energéticos/combustíveis de baixo carbono com potencial para substituição dos combustíveis fósseis são a biomassa e os gases renováveis.

Neste contexto o INEGI, enquanto centro de interface tecnológico e alinhado com a estratégias descritas, tem vindo a desenvolver, em conjunto com empresas nacionais, projetos que visam o desenvolvimento de metodologias, ferramentas e tecnologias para toda a cadeia de valor dos gases renováveis (com enfoque no hidrogénio verde), tendo como principal objetivo promover a descarbonização dos diferentes setores da economia nacional. Em concreto, a atuação do instituto tem sido focada:
  • no desenvolvimento de soluções tecnológicas para produção, armazenamento e uso industrial do H2; 
  • na análise de compatibilidade e definição de especificações para os ativos da rede de gás natural no cenário de injeção de hidrogénio, e 
  • no apoio a promotores de centrais de produção de hidrogénio verde, em fase de projeto, na otimização da eficiência e dos custos das centrais por via do dimensionamento e integração dos diferentes sistemas constituintes da central, para vários cenários de utilização final do H2 produzido e de produção de energia elétrica com base em fontes de energia renovável.

O desenvolvimento destas atividades fomenta o crescimento económico e o emprego por via do desenvolvimento de novas indústrias e serviços associados, bem como a investigação e o desenvolvimento, acelerando o progresso tecnológico e o surgimento de novas soluções tecnológicas, com elevadas sinergias com o tecido empresarial. De igual forma, pretende-se contribuir para a redução da dependência energética nacional, quer pela produção de energia a partir de fontes endógenas, quer pela utilização direta de hidrogénio, e dessa forma contribuir significativamente para a melhoria da balança comercial e o reforço da resiliência da economia nacional.
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